Hugo Calderano é uma ameaça aos asiáticos do Tênis de Mesa

Hugo Calderano - Brasil
Foto: COB
Os saques de Hugo Calderano já se tornaram uma espécie de marca registrada. Levanta a bola mais alto do que o comum e, quando ela já está quase tocando a mesa, a acerta com efeito. É uma tentativa de surpreender o rival. Ele sabe bem que ter estratégia é fundamental. Se, aos 23 anos, furou a panela asiática e alcançou a sexta posição no ranking mundial foi porque teve cada passo calculado. Por trás do sucesso do mesatenista, que nesta quarta-feira brigará pelo segundo ouro pan-americano no individual (e que dá vaga a Tóquio-2020), há uma soma de fatores.

O principal atende pelo nome de Jean-René Mounie. O francês é muito mais do que um treinador. Além de discutir estratégias de jogo, é o responsável por montar, a cada temporada, o planejamento do brasileiro.

— Ele é o cara mais importante na minha carreira. Monta toda a minha estratégia, pensa 24 horas por dia em mim. Está mais tempo comigo do que com os filhos dele — resume o carioca. — Está sempre pensando no calendário, se a gente tem que participar deste ou daquele campeonato, pensando em como evoluir meu jogo...

Hugo Calderano 06º colocado no ranking mundial.
Foto: COB
Mounie tem ainda outra importância: abre portas. Os dois tiveram o primeiro contato há oito anos, quando o francês foi contratado para treinar a seleção adulta, cargo que já não ocupa mais. Com 15 anos, Calderano já era um destaque da base. O francês conseguiu vaga para ele no Centro Nacional Francês (Insep), onde treinou o campeão mundial e duas vezes medalhista olímpico Jean Philiphe Gátien.

— Ele era o primeiro não francês a conseguir uma vaga. Foi uma fase bem difícil — lembra a mãe, Elisa Borges, responsável por administrar e captar contratos de publicidade.

A passagem pelo local teve sua importância. Os médicos franceses descobriram uma fratura na bacia adquirida na época em que o brasileiro praticava vôlei. Sim, até os 12 anos ele não sabia qual esporte queria e era disputado pelos dois. Um exame de idade óssea ajudou a tomar a decisão.

— Deu que ele não passaria de 1,86m — conta Elisa.

Uma cirurgia no Brasil corrigiu a lesão, e Calderano aproveitou a nova fase para entrar em outra porta aberta por Mounie. Trata-se do Ochsenhausen-ALE, onde, na última temporada (sua quinta pelo clube), conquistou a Bundesliga e a Copa da Alemanha. Lá, trabalha com outros nomes que são peças fundamentais na engrenagem de seu sucesso: o técnico Michel Blondel e o preparador físico Mikael Simon, ambos franceses.

A rotina com os companheiros de clube inclui cerca de seis horas de treino por dia. Entre as atividades, muita prática na mesa (com trabalho para cada mão), exercícios físicos para obter agilidade e resistência, e, quando necessário, a contratação de um sparring asiático.

Opção pelo vegetarianismo

Os resultados mostram que ele está no caminho certo. Em 2016, entrou pela primeira vez no top-50 do ranking. No início de 2018, chegou a 16º. Em dezembro, dois feitos: atingiu o sexto lugar e ainda venceu o número 1 do mundo Fan Zhendong, da China:

— A meta principal do meu ciclo é brigar por uma medalha em Tóquio.

Além da capacidade técnica, Calderano ainda exibe como atributos o equilíbrio emocional e a boa forma física. Aí, uma particularidade entra em cena. Há dois anos, é vegetariano. Uma estratégia que não buscava, inicialmente, melhorar o desempenho.

— Foi pelos animais, pela sustentabilidade, para ajudar o planeta. Mas acho que me ajuda, sim. Eu me sinto mais leve e menos cansado. Então pretendo continuar.

Crédito: Rafael Oliveira* oglobo

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